Ao julgar um recurso especial interposto pelo MP (Ministério Público) do Rio de Janeiro, a 4ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou que a atuação da Defensoria Pública como curadora especial para defender interesses de crianças e adolescentes só pode ocorrer em casos que houver convocação para tanto.
Isto aconteceu após a Defensoria Pública do Rio de Janeiro ter ingressado na Justiça, em nome próprio, para requerer medidas protetivas a um menor, portador de neuropatia decorrente de meningite, recolhido em um abrigo há mais de dez anos. O encaminhamento da criança à instituição foi feito pelo conselho tutelar a pedido da avó materna. O pai é desconhecido e a mãe, desaparecida.
Na ação, a Defensoria Pública pediu que fosse nomeado um defensor público como curador especial, além da expedição de medidas protetivas voltadas à reintegração da criança à família. O juízo de primeiro grau extinguiu o processo sem julgamento do mérito. Na sentença, alegou falta de interesse processual da Defensoria Pública. Porém, em recurso de apelação, a sentença foi reformada e o pedido de nomeação de curador especial foi deferido.
Inconformado, o MPRJ recorreu ao STJ. Em suas alegações afirmou que a Defensoria Pública pode representar juridicamente o necessitado e o hipossuficiente, nos casos em que o órgão seja provocado a atuar, mas não tem legitimidade para ingressar em nome próprio, de ofício, com ação para defender interesse de criança ou adolescente que sequer está o solicitando como parte. De acordo com sua defesa, a Defensoria Pública estaria usurpando as atribuições do conselho tutelar e do próprio MP, uma vez que o Ministério Público já assiste o menor, como substituto processual, na forma prevista no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
O relator do processo, ministro Luis Felipe Salomão, reconheceu que não há previsão legal para intervenção da Defensoria Pública como curadora especial em situações como a do processo em julgamento. Segundo ele, “a curadoria especial objetiva suprir a incapacidade do menor na manifestação de vontade em juízo e não a proteção de menor destinatário da decisão judicial”.
“A atuação da Defensoria Pública como curadora especial, no que se refere ao ECA, deve se dar somente quando chamada ao feito pelo juiz da Vara da Infância e Juventude, em processos em que a criança ou adolescente seja parte na relação processual, desde que vislumbrada tal necessidade”, afirmou Salomão.
De acordo com o magistrado, “embora a Lei Complementar 80/94 estipule ser função institucional da Defensoria Pública exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei, não é possível a instituição ser nomeada como curadora especial em processo instaurado de ofício por ela, em que não é parte criança ou adolescente”.
Por maioria de votos, a Turma determinou o restabelecimento da sentença que extinguiu o processo, sem resolução de mérito.
FONTE: ultimainstancia.uol.com.br